domingo, 23 de abril de 2017

Pastorinhos da Misericórdia

O domingo é, hoje (23-04-2017), de Pascoela. Este, o domingo depois da Páscoa, é Domingo da Misericórdia. Instituído por S. João Paulo II reforça o sentido e a certeza do Amor Misericordioso de Deus pela humanidade a atrai para Ele cada um de nós humanos. A hora da morte de Jesus (as 3 da tarde) é hora da Misericórdia, porque esse é momento de morte para Jesus, momento em que "abdica" de si mesmo e se confia nas mãos do Pai levando ao extremo o seu Amor, para que o seu aniquilamento fosse vida, momento de início de eternidade para nós.

Temos medo, repugna-nos o falar de sofrimento, de entrega de "perder a vida" porque o mundo nos ensina que temos que a ganhar a todo o custo. Somos cristãos e acreditamos que a Vida verda-deira a recebemos como dom e na medida em que confiamos esta, que é terrena, nas mãos de Deus, por seu Filho. Ele morreu por nós e vivendo  Nele a nossa vida torna-se Vida Divina. Só morre quem pelo caminho da morte optar.

Olhando os Pastorinhos de Fátima aprendemos  que, porque deixaram de viver para si mesmos, eles estão no Céu desfrutando da Vida plena, essa que não tem fim, essa que é total e absoluta. Vemos neles o coração misericordioso de Deus. A Jacinta, disposta a viver mais tempo para "sofrer mais pela conversão dos pecadores" acolheu uma vida de sofrimento pondo-o todo nas mãos de Deus, para que a vida que vivia fosse ato de entrega não de si, mas dos que ofendem a Deus. Era tal o seu amor para com os pecadores, e o desejo de que não se condenassem, que a curta vida que viveu neste mundo foi plena e agradável a Deus, não por ser de sofrimento, mas por ser de entrega total. O Francisco o pequeno gigante da contemplação viveu a sua, também  curta, vida terrena num ato total de reparação, de "consolar a Deus Nosso senhor", fazendo tudo, amando tudo, tanto quanto podia, por amor a Deus "que já está muito ofendido". 

Vamos sentir e dizer que a Jacinta ama Deus e os pecadores, querendo que estes não se percam, e o Francisco ama os pecadores e Deus, querendo que Este seja amado e glorificado porque é Deus e porque toda a glória lhe pertence.

domingo, 9 de abril de 2017

Não Ofendam Mais

Hoje o domingo é de "Ramos na Paixão do Senhor". Podemos não nos dar conta, mas falar de paixão é falar de sofrimento, de dor, de morte. Habituados que estamos a viver as coisas muito superficialmente, não é com facilidade que conseguimos entrar um pouquinho no mistério do sofrimento de Jesus. Não entramos no facto de todo o seu sofrimentos, em entrega de vida, ter acontecido por nós, por mim, para nos libertar das consequências do pecado, a morte eterna. Ele recuperou-nos para a vida.

"Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido". Este é mais um pedido, uma súplica, de Nossa Senhora, na aparição de setembro em Fátima. Quanto cresceram em ofensas em quantidade e gravidade! Consta que morreríamos de pavor se pudéssemos contemplar, ver, as ofensas com que cada um de nós ofende o infinito Amor de Deus, nós que somos cristãos e muitos dos quais ousam dizer "não tenho pecados". Pensemos nos pecados da humanidade e no quão facilmente nos identificamos com eles.

Para glória de Deus, bem nosso e da humanidade, à urgência de conversão, para não ofendermos mais a Deus, acresce a urgente reparação pelo pecado, o nosso e o de toda a humanidade. É com este apelo que se marca o início das Aparições em Fátima. Na 3ª aparição do Anjo ele reza com os Pastorinhos: "Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores". E o Anjo continuou, depois de lhes dar a comunhão: "Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolei o vosso Deus".

A semana que iniciamos é de profunda meditação e tomada de consciência da necessidade de glorificar Deus, e de Lhe confiarmos a vida, nos sacrifícios que tem, tornando-Lha agradável. Entregar-se a Deus, no sacrifício e na oração, nunca é demais. É preciso fazê-lo por nós, e por aqueles que o não fazem.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Quem Vive Não Morrerá

“Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?” (Jo 11,25-26) As afirmações e a pergunta de Jesus fazem parte do diálogo com Marta, por ocasião da ressurreição de Lázaro.

No profeta Ezequiel lemos: “Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar…” (Ez 37,12). Professamos, no Credo, a fé na descida de Jesus à mansão dos mortos. O pecado tinha reduzido o ser humano à condição de condenado à morte, uma morte eterna, cortando-lhe a possibilidade de total comunhão com Deus, a possibilidade da eternidade no Céu, para a qual havia sido criado.

A ação de Deus, na entrega do Filho para reverter a situação do Homem, altera o rumo que este escolhera ao optar pela rejeição do Criador na original tentação demoníaca.

A oferta que Jesus, o Homem-Deus, faz de si, da sua vontade, da sua vida, ao Pai recupera a humanidade para a vida junto de Deus, deixando no ser humano a opção de escolha. Entre o bem e o mal, a vida e a morte, a decisão está nas suas (nossas) mãos.

“Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá”. Na morte de Jesus cumpre-se a profecia de Ezequiel e torna-se clara a sua afirmação à Marta, em Betânia. No morrer do corpo a alma entra na morte. Entenda-se por morte da alma, porque o é, o estado de ausência de Deus. Sendo que a alma não morre, “vivia” em estado de morte porque longe de Deus, uma vez que não tinha lugar junto Dele, em consequência do pecado. Ao morrer, Jesus entrou na morte, na “mansão dos mortos”, mas porque é Deus abriu as portas de saída e, ao ressuscitar, retirou dela todas as almas que, tendo vivido em comunhão com Deus, esperavam o momento da redenção para serem elevadas ao céu. “Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar”. Aconteceu: um Homem-Deus entrou na morte e o mesmo Homem-Deus venceu-a ressurgindo dela. A morte foi vencida, satanás perdeu. Por isso tanto se afadiga por, na recuperada liberdade dos seres humanos, os atrair a si.

“E todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá”. Porquê? Porque as portas da morte estão fechadas para aqueles que acreditam e vivem em Jesus. Continuam abertas para aqueles que, conhecendo Deus, O recusam nesta vida terrena, que é “sala de espera” da eternidade. Compreende-se assim, que a morte do corpo seja passagem para Deus. O corpo morre mas a alma “nunca morrerá” porque não entra na “mansão dos mortos”, o seu lugar é nas “moradas eternas de Deus”.

Questionamo-nos sobre o Purgatório. Sem ser morte da alma, é uma experiência de morte, porque, tendo já visto Deus em todo o seu Esplendor, ela se vê apartada Dele, mas por um “tempo determinado” – uso a palavra tempo para me poder exprimir – e tendo já a certeza da vida em Deus.

Porque a Vida é absoluta vivência de comunhão de Amor. Já a morte, por seu lado, é absoluta falta de esperança e pleno desespero, absoluta falta de amor e plena vivência de ódio, absoluta falta de relação de comunhão e plena solidão. 

J. B. 04-04-2017

sábado, 1 de abril de 2017

Nascer é Graça

"A desgraça foi ter nascido". Ouvi há dias a expressão, que me fez pensar e me leva a crer que é realmente assim que algumas pessoas, levadas por determinadas situações, veem a vida. Não posso levar a peito o conteúdo das palavras porque refletem geralmente uma visão  sofredora da vida.

Olhar o nascimento como desgraça leva ver a vida como uma realidade sem graça. Não se percebe o dom que ela é, e o quanto Deus pôs de amor ao conceder-nos a vida e ao chamar-nos a viver.