“Eu sou a
ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e
todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?” (Jo
11,25-26) As afirmações e a pergunta de Jesus fazem parte do diálogo com Marta,
por ocasião da ressurreição de Lázaro.
No profeta Ezequiel
lemos: “Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar…” (Ez 37,12).
Professamos, no Credo, a fé na descida de Jesus à mansão dos mortos. O pecado
tinha reduzido o ser humano à condição de condenado à morte, uma morte eterna,
cortando-lhe a possibilidade de total comunhão com Deus, a possibilidade da eternidade
no Céu, para a qual havia sido criado.
A ação de
Deus, na entrega do Filho para reverter a situação do Homem, altera o rumo que
este escolhera ao optar pela rejeição do Criador na original tentação
demoníaca.
A oferta
que Jesus, o Homem-Deus, faz de si, da sua vontade, da sua vida, ao Pai recupera
a humanidade para a vida junto de Deus, deixando no ser humano a opção de
escolha. Entre o bem e o mal, a vida e a morte, a decisão está nas suas (nossas)
mãos.
“Quem
acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá”. Na morte de Jesus cumpre-se
a profecia de Ezequiel e torna-se clara a sua afirmação à Marta, em Betânia. No
morrer do corpo a alma entra na morte. Entenda-se por morte da alma, porque o
é, o estado de ausência de Deus. Sendo que a alma não morre, “vivia” em estado
de morte porque longe de Deus, uma vez que não tinha lugar junto Dele, em
consequência do pecado. Ao morrer, Jesus entrou na morte, na “mansão dos mortos”,
mas porque é Deus abriu as portas de saída e, ao ressuscitar, retirou dela
todas as almas que, tendo vivido em comunhão com Deus, esperavam o momento da
redenção para serem elevadas ao céu. “Vou abrir os vossos túmulos e deles vos
farei ressuscitar”. Aconteceu: um Homem-Deus entrou na morte e o mesmo Homem-Deus
venceu-a ressurgindo dela. A morte foi vencida, satanás perdeu. Por isso tanto
se afadiga por, na recuperada liberdade dos seres humanos, os atrair a si.
“E todo
aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá”. Porquê? Porque as portas da
morte estão fechadas para aqueles que acreditam e vivem em Jesus. Continuam
abertas para aqueles que, conhecendo Deus, O recusam nesta vida terrena, que é “sala
de espera” da eternidade. Compreende-se assim, que a morte do corpo seja
passagem para Deus. O corpo morre mas a alma “nunca morrerá” porque não entra
na “mansão dos mortos”, o seu lugar é nas “moradas eternas de Deus”.
Questionamo-nos
sobre o Purgatório. Sem ser morte da alma, é uma experiência de morte, porque,
tendo já visto Deus em todo o seu Esplendor, ela se vê apartada Dele, mas por
um “tempo determinado” – uso a palavra tempo para me poder exprimir – e tendo já
a certeza da vida em Deus.
Porque a Vida
é absoluta vivência de comunhão de Amor. Já a morte, por seu lado, é absoluta
falta de esperança e pleno desespero, absoluta falta de amor e plena vivência
de ódio, absoluta falta de relação de comunhão e plena solidão.
J. B. 04-04-2017