segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Um Deus Louco

Omnipotente. Assim é o Senhor Deus, Todo-poderoso. 

Aquele que tudo pode e sabe, é um louco de amor pelas pobres criaturas que nós so-mos, loucamente pobres por haver em nós a capacidade de, com consciência, fazer o mal. É assim, nesta natureza fragilíssima e pecadora, que nos ama loucamente ao ponto de se fazer um de nós, assumindo as nossas fragilidades todas, menos aquela de sermos pecadores.

Preparou, ao longo da história, um povo que Lhe fosse fiel, e no meio de todas as infidelidades desse povo, Ele permaneceu fiel. Preparou um céu na terra: o ventre sagrado da vida pura de uma mulher imaculada. Nesse céu se fez vida humana e santificou a vida desde o momento primeiro da sua conceção, e ela se tornou sagrada. Nesse céu se deslocou, pequenino embrião ainda, a santificar Santa Isabel, e S. João, o Baptista, no seu seio. 

Por Ele, e Ele permitiu, centenas de crianças, pequeninas ainda, com menos de dois anos, sem saberem, deram a vida às mãos de um homem louco por vingança. Não se perdeu uma gota sequer, porque Deus dá vida plena aos que Lhe oferecem a vida que têm. Santos, inocentes, os mais pequeninos e primeiros se deram e Ele os aceitou e agora vivem para sempre.

Ele, pequenino, com alguns dias apenas, poucos, se escondeu em terra estrangeira: no Egito foi refugiado. Uma mãe e um pai, amedrontados mas confiantes, O guardaram e protegeram das mãos do malvado de coração odioso que queria matar Deus, porque Deus não abandona os que são seus. Livraram-se Ele e o pequenino João, primo seu, porque haviam de dar a vida, eles também às mãos de um outro Herodes, em loucura igual ao primeiro, mas apenas depois de testemunharem e ao mundo falarem do amor de Deus, que é misericórdia.

Fez-se homem: recolheu-se nas mãos de um pai e uma mãe a quem obedeceu, de quem aprendeu e a quem santificou e, neles, santificou também a família e a vida que dela nasce e nela cresce. Nele tudo se santifica.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Este é o Tempo...

Este é, para muitos, tempo e ocasião para viver um profunda solidão e tristeza, sentimentos que advêm de uma, mais ou menos real, certeza de que este é, por natureza, tempo de verdadeira felicidade para todos, o que acentua mais ainda os aspetos que marcam  menos positivamente a vida de cada um, as vidas de tantos.

Lia um artigo afirmativo de que esta é a época mais hipócrita do ano. É-o de facto, não por si, mas pelo que dela fazemos. As épocas, os tempos ou as coisas, não são hipócritas, somo-lo nós que, hipocritamente, somos  e vivemos  cada época do tempo que a vida nos proporciona.
Este é o tempo mais belo que pode ser vivido, seja por quem for, o que não quer dizer que todos assim o vivam: este é o tempo, o único tempo que existe. O passado passou e foi o que dele fizemos, o futuro será o que hoje somos e o que amanhã formos.

Este é tempo em que Deus nasce e dá fecundidade à vida daqueles que preparam "terreno" para que a semente do Verbo possa gerar e dar fruto; este é o tempo em que Deus, oferecendo-se na aceitação da vontade do Pai, se dá e salva aqueles que sabem curar as feridas da falta de sentido de vida, as feridas de pecado, com a Palavra que guia, o Corpo e o Sangue que alimentam; este é o tempo favorável do encontro com o Deus criador que nos recria, o Deus Salvador que nasce, se entrega, e salva, o Deus santificador que move aqueles que se tornam dóceis à sua voz para que vivam e façam de toda a sua existência uma época de encontro com a plenitude divina e dela sejam portadores para aqueles com quem cruzam suas vidas.

Este é o tempo, o melhor, porque o único tempo, para que uns e outros, todos: ricos e pobres, saudáveis e doentes, pequenos e grandes, iludidos com a vida ou com ela desiludidos, abram coração e mente, tudo o que são, para que Deus possa nascer, crescer e salvar: para que aconteça mesmo Natal, vivido sem hipocrisia, só em verdade e, então sim, possa ser natal todos os dias. 

domingo, 9 de dezembro de 2018

Porta Que Leva ao Caminho

Temos, hoje em dia, muito facilitadas as formas de encontrar o caminhos para onde quer que nos dirijamos, "basta comprar um GPS" e, mais coisa menos coisa, ele vai levar-nos ao lugar certo. 

Estamos em caminho, não de um lugar mas de um estado, de uma forma de ser, a caminho da eternidade, na glória de Deus. O caminho está aberto e é claro: nascemos de Deus e para Ele somos chamados a caminhar e viver. Caminho há só um: Cristo. Mas é preciso percorrê-lo. Ele deu, antes de nós, os necessários passos a dar. Liberalizou estações de reabastecimento de energias e graça: os sacramentos. Enviou-nos sem pesos e cargas, mandando-nos sacudir até o pó do mal que possa pegar-se ao calçado.

Vai connosco, connosco caminho e para nós se faz caminho, não nos deixando sós, por um pequeno momento que seja. Faz-se sede em nosso interior para que Dele sintamos desejo e vontade, porque só caminha quem a algum lado ou a alguém quer chegar. 

Aqui entra a dificuldade: sabermos se há em nós um real desejo de Deus. Não acontecerá, porventura, que, cheios de nós mesmos e de nossas coisas, não tenhamos espaço para Ele?

Maria, a soberana Senhora, foi aquela que mais profunda e intensamente  desejou, esperou, e orou para que o Senhor Deus enviasse ao mundo o Salvador., tal e tão intenso era o seu desejo de que a humanidade fosse salva. Por sua profunda humildade, não Lhe passava em mente que fosse achada digna de ser a Mãe do Salvador. Não sabia que era Imaculada, simplesmente se entregou a si mesma ao projeto salvador de Deus e, incessantemente, orou para que esse projeto se realizasse quanto antes. 

Sua condição de Imaculada levou-A à total entrega de si mesma, pelo que um "não" à vontade de Deus seria impensável nesta mulher que era toda, e só, de Deus. Ainda assim, Deus não Lhe retirou a liberdade, sabia, no então em quem confiava: um Deus que se confia "todo" no "Sim" e na vida de uma jovem mulher!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Maria, Farol e Vigia

E estamos em Advento... Começa um novo ciclo litúrgico. Convocados pela Igreja a celebrarmos com adequada preparação o Natal, iniciamos este tempo assumindo a necessidade de nos dispormos a permitir que Jesus se torne realidade em nossas vidas.

No próximo sábado celebramos a Imaculada Conceição da Virgem Maria. Especialmente preparada por Deus, que a isentou de toda a macha de pecado, fazendo dela um ser humano único, absolutamente predisposta para que Jesus pudesse encarnar, assumindo a nossa humanidade. O ventre de Maria tornou-se o céu. O seu "Faça-se" foi ato de plena entrega de si mesma, um pleno assumir de todas as consequências do ser Mãe do Salvador e um acolher em suas mãos o projeto divino de salvação da obra criada.

Hoje, a liturgia da palavra, faz um veemente apelo à vigilância em todo o tempo e momento. Vigiar é ser reflexo de Maria: a mulher que, porque cheia de graça,  por graça divina e vontade sua, se tornou o mais atento e acolhedor ser de toda a grandeza de Deus. Nela não havia impedimento à plena entrega de si mesma à vontade de Pai, esse impedimento que o pecado provoca em nós, impedimento tanto maior quanto maior for a falta de graça (a desgraça) em nosso ser.

Maria, sem que alguma vez lhe passasse pela mente a ideia de poder ser a  Mãe do Salvador, a extrema humildade de que se revestia fazia-A sentir-se a mais indigna de todas as criaturas, tornou-se, por seu amor à humanidade, a única que pedia gerá-Lo em seu ventre por ser Ela a única capacitada para tal acolhimento, por ser a única desprovida de qualquer sombra de pecado. Ela foi, e não haverá ninguém mais, a única que podia receber em si a força, a luz, que é o próprio Deus, em toda a sua intensidade.

Maria, tornou-se, assim o farol irradiador de graça e de luz que fortalece e ilumina qualquer pecador, no seu pequeno e incapacitado desejo de comunhão com Deus. Estar vigilante é olhar, querer e desejar, Deus através de Maria, a Mãe atenta e vigilante.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

A Mais Alta Dignidade

Conhecemos todos o modo de pensar desta sociedade que somos, no que se refere, de modo geral, naturalmente, a Deus e a tudo o que Lhe diz respeito. Invertemos valores: pusemos o homem no lugar de Deus, e perdemos o senti-do do que somos; agora estamos em processo rápido de profunda perda de dignidade humana, quando pomos os animais acima das pessoas. A consequência de nos pormos acima de Deus levou-nos a ficar abaixo dos animais.

Perdidos numa forma de pensar que nos afasta de Deus, reagimos da forma mais infeliz quando uma criança, adolescente, ou jovem manifesta o interesse por se consagrar a Deus no sacerdócio. Digo ser a forma mais infeliz porque, além de não se respeitar a pessoa, se desmotiva e arrasa "em modo (uso a palavra da moda) bulliyng, um projeto de vida pessoal, e, mais grave ainda, pode estar-se a impedir um projeto de Deus, o mais dignificante do ser humano: ser integrado, por escolha divina, no ministério do próprio Jesus Cristo.

Bem sei que só quem acredita e vive da fé pode entender e dar valor ao que escrevo: outros veriam nisto, se o lessem, uma oportunidade de escárnio e maldizer. Quem dera que acontecesse só com quem se diz não cristão! A dificuldade maior está em que a atitude desmotivadora e negativa acontece dentro da própria casa, na família, como nos cristãos em geral. 

Muito se diria, mas ficam apenas pensamentos que mostrem um pouco da grandeza da vocação sacerdotal e da vida que, exercendo-se bem, se gera no próprio sacerdote e à sua volta. Tem pecados? Sim. Como qualquer pessoa deve não viver neles. Não sendo o sacerdócio uma "profissão", mas uma vocação, o Senhor chama os que quer e investe-os do seu próprio poder para que possam atuar Nele.

Nos sacramentos, particularmente na Eucaristia e na reconciliação atua o próprio Deus. Jesus eleva a uma tão alta dignidade o sacerdote, que chega ao ponto de depender dele para atuar. Se o sacerdote não quiser, a Eucaristia não acontece. Sendo uma responsabilidade muitíssimo grande, o ser padre é uma dignidade infinita, que deve levar o sacerdote a uma profunda humildade. É digníssimo ser sacerdote, como o é ter um filho que o seja. 

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Sinais de Deus

Pode chegar a cansar o facto de andar-mos todos os anos a falar do assunto, repetindo, naturalmente, as questões, as razões, os quês e os porquês. Cada ano a Semana dos Seminário se repete em jeito de recordação, lembrança, mas, acima de tudo, de apelo.

O problema pode não nos afetar muito, porque nos não "inclinamos" sobre ele. O Seminário é uma realidade que nos passa ao lado, na medida em que estamos alheados das preocupações que têm a ver com a nossa fé. Ainda não sentimos, de facto, as consequências da falta de sacerdotes. Até agora têm dado para as "encomendas". Assim acontece porque não é muito o que buscamos de Deus, através deste mistério ( e Ministério) inefável do sacerdócio que Jesus instituiu. 

O mais dramático não é a não necessidade de sacerdotes, o verdadeiro problema está em que não sentimos necessidade de Deus. Acreditamos bastarmo-nos a nós mesmos e, como tal, Deus acaba por ser perfeitamente descartável. Pelo menos até ao momento da dor, da angústia. Aí sim, buscamo-lO, mas numa grande percentagem das vezes, fazemo-lo para O acusarmos dos males que em nós, nos outros, e no mundo acontecem. Sobre Ele descarregamos, atirando-Lhe as culpas de tudo o que de menos bom vai sucedendo.

Há uma necessidade urgente de que nós, cristãos, percebamos o sentido de Deus em nossas vidas. Ousaria chamar para aqui o sentido político da humanidade: não está em causa que seja numeroso, sem limites, o povo de Deus; não está em causa o número de militantes que a Ele aderem para que seja a maior força de poder. Em causa está a salvação, a vida, não a de Deus porque é Ele a própria Vida, mas a nossa, aquela para que fomos criados e que podemos estar a deixar escapar na indiferença da vida que somos e vivemos. Porque a força de Deus se manifesta na fraqueza, nos mais "pobres", naqueles homens e mulheres que, por serem e se sentirem pobres de si mesmos, se deixam encher e enriquecer de Deus.

Rezar pelos seminários é ser Igreja, sinal e presença de Deus no mundo.

domingo, 4 de novembro de 2018

Comunhão de Santos

Falando, ainda, de Almas, porque o mês é a elas dedicado, é importante refletirmos, pensando na relação e na comunhão de santos que se estabelece entre todos aqueles que  pelo batismo acolheram a filiação divina e, ao longo da vida, buscam ser fiéis a Deus.

Somos pessoas. Como tal, somos constituídos de corpo e alma. Os animais são um corpo, os anjos são espíritos, a pessoa é corpo e espírito, alma. Ao dar a vida, Jesus remiu toda a obra da criação. Centremo-nos é nós para dizer que não salvou a nossa alma, salvou a pessoa que somos: corpo e alma. Pela morte do corpo a alma é ascende junto de Deus e, num primeiro julgamento, é-lhe concedido o Céu, o Purgatório (purificação), ou a condenação, se esse foi o caminho que escolheu. 
Acreditamos que Jesus virá, no fim dos tempos para julgar os vivos e os mortos. As almas retomarão o seu corpo, agora glorioso, e viverão em Deus definitivamente. Porque somos pessoas, de corpo e alma, assim viveremos em Deus (ou não).  

As almas que estão na glória não têm necessidade de oração, mas a oração que por elas façamos não se perde: glorifica Deus, e Deus confiará seus frutos onde eles forem necessários. Elas intercedem por nós.

As Almas do Purgatório estão em estado de purificação, porque no Céu entra só quem é puro como Deus. Este estado acontece para purificação das almas. Estas não podem fazer nada por si mesmas, podem interceder, isso sim, por nós. Beneficiam das nossas orações e intercedem por nós, particularmente por aqueles que por elas rezam.

Em qualquer destas situações, quem primeiro recebe graças é aquele que reza e dá glória a Deus.

Dos condenados, não vale a pena falar, nada há a fazer por eles.

Geralmente, pelas Almas, oferecemos a Eucaristia, mas toda a nossa vida pode ser vivida em ato de oferta. A via-sacra, concretamente, e o jejum, são meios muito proveitosos. Não desistamos de oferecer a nossa vida a Deus.

domingo, 28 de outubro de 2018

Mês das Almas

Este é já o último domingo do mês de outubro. Mês de Rosário e de Missões, termina 31 dias depois de ter começado, mas a necessidade de oração do terço é premente, todos os dias, assim é pedido por Nossa Senhora. E o mundo precisa de Deus, está nas mãos dos verdadeiros missio-nários esse levar Deus ao mundo.

Passam os dias e chega novo mês. Vai ser novembro, este dedicado às Almas. Ora bem, fixando-nos por aqui, convém (re)parar e pensar um pouco. Celebram-se os santos e os defuntos, aqueles que os celebram, pois muitos, dizendo-se cristãos, prestam culto a criaturas más, que põem em lugar de Deus. Muito por alto: os "Santos" são aqueles defuntos que se encontram já a viver na Glória de Deus; os "Defuntos" são aqueles (santos também) que estão ainda em processo de purificação no Purgatório. É mais ou menos assim que a nossa linguagem identifica aqueles que, de modo particular em novembro, recordamos.

Mas os santos que o são depois desta vida terrena, construiram santidade, vivendo-a pessoalmente em vidas comuns, sem grandes aparatos visíveis, discretos, fechada a porta dos seus quartos, em comunhão com Deus. Entregaram-se como pais, mães, filhos, irmãos... numa na busca constante de Deus e num desejo, sempre maior, de O conhecerem, e Lhe serem fiéis, amando-O nos pequenos e grandes momentos, bons e maus, de suas vidas.

Os santos "fazem-se" com vida prática na participação nos atos voluntários de caridade para com os irmãos, nos atos de respeito de cuidado da natureza, atos sempre de interior voluntariado, ainda que, por aparência, sejam uma obrigação. Atos de amor que passam sempre, necessariamente por Deus, para que Lhe sejam confiados e por Ele santificados, e não permaneçam apenas no mundo do humanismo, é bom mas é pouco. 

É Deus quem nos santifica, o que acontece quando a Ele nos confiamos, quando, pessoalmente, celebramos, acolhendo as graças que nos são conferidas nos sacramentos, quando rezamos. É pela vida que vivemos em Deus que Ele pode salvar-nos. Vale aquilo que cada um de nós vive, muito mais que aquilo que os outros, depois da morte rezem por nós.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Simbólica do Bem ou do Mal


Não é a primeira vez que falamos destas questões aqui, mas é preciso que continuemos a fazê-lo, talvez relembrando, para que vamos tomando consciência da Igreja que somos, porque o que um cristão é, a Igreja é-o também.


Momentos antes de ungir o peitinho da criança com óleo santo, a mãe pôs-lhe ao pescoço um fio, que meteu para dentro da roupita. Tudo normal. No momento do batismo, porque foi preciso inclinar a criança, o fio saiu e mostrou todo o seu potencial. Reparei depois de uma outra criança, creio que irmã, estava carregada com os mesmos adereços. A estrela de David (6 pontas), uma figa, um corno, uma meia lua... Era tal o emaranhado de símbolos que não deu para ver se estavam todos e se por lá haveria também um crucifixo. Provavelmente haveria de tudo. 

Ficou-me a questão sobre o porquê, e o para quê, de batizar um filho quando pais, padrinhos e avós, desde a mais tenra infância, os carregam de simbologias contraditórias, invocando sobre eles, em simultâneo, duas forças adversa, a do bem e a do mal. Deus e satanás. A vida desenrola-se num constante ato de escolha entre estas duas realidades.

A estes sinais atribui-se a sorte, o afastamento do mal. Aliás, mesmo muitos cristãos ao trazem uma cruz, não lhe atribuem simbologia diferente desta. Trazem-na, não porque seja o sinal e a lembrança de que se pertence e se está em comunhão com Deus, mas como se de um amuleto se tratasse e ele afastasse o mal. A vida não é uma questão de sorte, é vida. É dom de Deus, que se constrói como uma sequência de escolhas pessoais e que nos traz os frutos dessas mesmas escolhas.

Fomos criados para o bem, mas, atingidos pelo mal, somos permanentemente atraídos para o que é mau. A caminhada cristã é precisamente a luta que se trava no vencer o mal, luta que produz vitória pouco a pouco e numa íntima relação de comunhão com Deus, a quem se confia o viver. Andar de lado para lado ou limitarmo-nos a afastar a "má sorte", não é muito mais que dizer ao demónio que se é amigo dele e que até trazem os seus sinais. Nessas condições, é claro que ele nem precisa de se chatear. Não é sorte, são menos tentações, o que, aparentemente e no momento, nos facilita a vida. Mas a vida não é aparência nem momento, é eternidade... E Deus não nos retira a nossa liberdade.

domingo, 14 de outubro de 2018

Missionários em Casa

Se outubro é mês de Rosário, esta dimensão bastante falada, ele é mês  também das missões. Se por um lado somos motivados à oração do terço, e é essencial que não deixemos de o rezar, faz-se-nos um apelo também a que nos demos conta da dimensão missionária, que é também intrínseca à vida de todo cristão.

Somos sal e somos luz, é Cristo que no-lo diz. Sal para dar sabor e temperar o que somos e que, naturalmente, se vai dissolvendo e penetrando o ser dos outros; luz que, indo na frente, ilumina, guia e dá brilho ao viver dos demais. O cristão é, por natureza, um ser missionário, alguém que, sem deixar a sua terra e a sua vida de cada dia, pelo testemunho, anuncia Cristo aos demais. E a perspetiva é, sempre, levar à vida dos outros, o Cristo que se vive para que a experiência que fazemos de Deus a possam fazer eles também. 

Ser missionário é ter uma missão. E a missão é um envio, não uma iniciativa pessoal, mas iniciativa de Deus, que quer atuar no mundo através de nós. Não sendo iniciativa pessoal, deve ser assumida como obrigação. Este é o primeiro aspeto a ter em linha de conta. Outro aspeto é o facto de que precisamos tomar consciência de que somos missionários com o nosso modo de ser em cada momento, que não é preciso vestir uma qualquer roupagem diferente que mostre a nós e aos outros aquilo que somos.

Claro está que há os missionários que deixam a a sua terra e partem em missão para países, terras e missões mais ou menos distantes, e com os quais devemos estar em comunhão e por eles rezar. Nascendo da nossa condição de batizados e da natureza da Igreja, muitos são os modos e formas de missionar.

Este mês faz-nos lembrar santa Teresinha do Menino Jesus, que vivendo apenas 24 anos, tendo entrado para um convento de clausura em Lisieux, França,  com apenas 15 anos, é padroeira das missões. Sem nunca deixar o convento, ofereceu toda a sua vida, todas mesmo, nos mais pequeninos, simples e humildes atos, por amor a Jesus e pelas missões, ela que tinha, desde pequenina um intenso desejo de ser missionária.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Eu Sou o Mundo

Está aí um novo ano Pastoral. Recomeçam atividades, procuram-se algumas novas. Para muitos dos nossos cristãos começa a catequese, aqueles que vêm pela primeira vez, ou recomeça, para aqueles que já a frequentaram, muitos dos quais aproveitaram para fazer umas mais longas férias Deus. Sim mais longas, porque muitos, uma vez mais, as fazem ao longo de todo o ano, ou da vida, dando de si a Deus não mais que quase nada.

Bem sei que aqueles que este texto leem são, certamente, aqueles que procuram viver um pouco mais esta comunhão com Deus. A questão é que o facto de sermos batizados nos torna cooperante e membros de uma comunidade, pelo que a salvação do outro tem que me "preocupar" a mim também. Entra aqui a comunhão que é preciso viver na oração.

O sermos comunhão faz-nos ser um pouco dos outros e faz que os outros sejam um pouco de nós. Uma pequena flor perfuma uma sala como um bom cristão faz boa uma comunidade. Acontece exatamente o mesmo em sentido contrário: um mau cristão destrói toda a comunidade. Um grupo transforma-nos nele, se nos deixarmos por ele envolver. Um grupo é transformado por nós, não se nos fizermos iguais aos outros, mas na medida em que, sendo diferentes, damos fazemos que o grupo o seja também. Neste sentido, precisamos mais de transformar do que de nos deixarmos ser transformados.

Talvez sintamos que não podemos fazer muito para transformar o ambiente em que vivemos, precisamos, no entanto, de acreditar que com a nossa oração e com nossas ações de vida em comunhão levamos a que Deus transforme o que por nós não conseguimos.
É preciso não vivermos como puros independentes, numa vida alheada de tudo e de todos, sob pena de cairmos num profundo e destruidor egoísmo que vê o mundo e os outros como inimigos ou vírus.

Todos vemos no mundo, nas pessoas e na própria vida, não aquilo que eles são, mas o que nós somos, porque tudo olhamos e vemos com os "nossos olhos". Para nós, tudo se transforma naquilo que nós somos.

Puro Ato de Bondade

Servir e amar. Esse foi o fim para que Deus  criou os Anjos. Seres que são puros espíritos nada mais fazem do que, em perfeita liberdade, estarem dispostos ao Amor para com Deus, em ato de perfeita entrega de si mesmos ao Criador e Senhor de todo o universo.

Deixemos de lado os espíritos que, livremente recusaram amar o Criador e que, por isso, optaram pela perdição, pela plena infidelidade. Também eles foram criados para servir e amar, mas o orgulho levou-os a dizer não. 

Centrando-nos agora no ser humano que somos, sintamos que fomos criados por Deus exatamente para o mesmo: para O servirmos e amarmos. Foi em ato de pura bondade de Deus que fomos pensados e criados, para que participássemos infinita perfeição que Ele é. A opção por Lhe dizermos não, no ato de pecado original, catapultou-nos para a perdição com os espíritos maus. 

Mas Deus, pura bondade, continua a amar-nos e, tendo-nos recuperado para Si, chama-nos a estarmos dispostos para O amarmos e servirmos. Entremos em nós para tomarmos consciência de que, tendo estado irremediavelmente condenados, Deus se fez um de nós, assumindo a nossa natureza e condição, e nos acolheu como filhos, capacitando-nos para o amor.

Era de justiça a nossa condenação, mas é de Misericórdia a nossa recuperação. Na certeza de que ambas estarão presentes no momento final, é em nossa liberdade que percorremos os caminhos do bem ou do mal. 

No fundo, ao mandar-nos que vivamos o mandamento do Amor, que se exprime na confiança, na entrega de nós mesmos à vontade de Deus, ao longo da vida, e na vida, que vivemos, e não depois de morrermos; ao exigir-nos o Amor, ao obrigar-nos a amar, aquilo que Deus faz é, ouso dizê-lo, "obrigar-nos" a sermos felizes, a optar pela felicidade. E nós continuamos a dizer os nossos nãos...

Sim, é na plena liberdade que atuamos. Deus não pode fazer mais por nós que aquilo que fez e faz. Não quer, de forma alguma, perder-nos. Deus nada perde de si pelas nossas recusas em O amarmos, o não querer que nos percamos é puro ato de bondade Dele. Vida ou Morte dependem de nós, nunca de Deus. 

Dízimo

O termo vem da Sagrada Escritura. Embora entre nós não se use muito, alguns grupos religiosos conhecem-no bem. Era uma exigência de Deus ao Povo de Israel: que cada família pagasse o dízimo (a décima parte) de todos os bens. Falando de bens, pensamos no que de material cada um possui, como se bens fossem apenas as materialidades que fazem parte de nossa vida.

Porque a vida é um bem, como o são a saúde, os filhos, os pais, o trabalho... Seria interessante centrarmo-nos no dízimo que devemos a Deus por todos os bens que nos concede. Sentiríamos que um décimo de nós mesmos é pertença de Deus. Sentiríamos que das 24 horas no nosso dia, 2 horas e 24 minutos seriam totalmente de Deus. Aqui é caso para que cada um se pergunte quanto tempo dedica exclusivamente a Deus. É interessante o facto de Nossa Senhora, em La Salette, França, ter pediu duas horas de oração por dia.

Não encontramos tempo nem motivações para aquilo que, interiormente, nos não diz muito. Se somos gente a procurar viver sobretudo o presente, e com toda a intensidade, é fácil percebermos que Deus não nos muito pois nos aponta a eternidade que, embora estando a ser vivenciada já, a pomos depois deste tempo de existência terrena, isto se é que na eternidade pensamos.

Uma coisa é certa: vivemos conforme, realmente, acreditamos e acabamos por acreditar conforme vivemos. Aqui se encontra toda a realidade da indecisão, porque não acreditamos, embora digamos acreditar, e vivemos a meio termo embora, falando, afirmemos, muitas vezes, valores e realidades que que nos são interiores e estão no coração.

Os "10 por cento de Deus" de que se compõe a nossa vida, não são, embora o sejam também, prata, ouro ou demais bens materiais, são uma percentagem de nós mesmos. São o nosso tempo, o nosso sorriso, a nossa caridade, o nosso perdão... Um tempo claro, diário, e exclusivamente de oração, o tempo por nós  dedicado a Deus, é nascente cuja água se vai diluindo e transformando todo o ser, toda a  vida, de modo a que, sem nos darmos conta, não apenas esse "pouco" tempo, mas todo o nosso ser se tornará oferta para Deus.

Afinal, Cristo não nos pediu 10 por cento, exigiu-nos a totalidade de nós mesmos, tudo o que somos, numa entrega que é nossa, mas fruto da sua Graça.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Servir e Amar

Servir e amar. Esse foi o fim para que Deus  criou os Anjos. Seres que são puros espíritos nada mais fazem do que, em perfeita liberdade, estarem dispostos ao Amor para com Deus, em ato de perfeita entrega de si mesmos ao Criador e Senhor de todo o universo.

Deixemos de lado os espíritos que, livremente recusaram amar o Criador e que, por isso, optaram pela perdição, pela plena infidelidade. Também eles foram criados para servir e amar, mas o orgulho levou-os a dizer não. 

Centrando-nos agora no ser humano que somos, sintamos que fomos criados por Deus exatamente para o mesmo: para O servirmos e amarmos. Foi em ato de pura bondade de Deus que fomos pensados e criados, para que participássemos da infinita perfeição que Ele é. A opção por Lhe dizermos não, no ato de pecado original, catapultou-nos para a perdição com os espíritos maus. 

Mas Deus, pura bondade, continua a amar-nos e, tendo-nos recuperado para Si, chama-nos a estarmos dispostos para O amarmos e servirmos. 

Entremos em nós para tomarmos consciência de que, tendo estado irremediavelmente condenados, Deus se fez um de nós, assumindo a nossa natureza e condição, e nos acolheu como filhos, capacitando-nos para o amor.

Era de justiça a nossa condenação, mas é de Misericórdia a nossa recuperação. Na certeza de que ambas estarão presentes no momento final, é em nossa liberdade que percorremos os caminhos do bem ou do mal. 

No fundo, ao mandar-nos que vivamos o mandamento do Amor, que se exprime na confiança, na entrega de nós mesmos à vontade de Deus, ao longo da vida, e na vida, que vivemos, e não depois de morrermos; ao exigir-nos o Amor, ao obrigar-nos a amar, aquilo que Deus faz é, ouso dizê-lo, "obrigar-nos" a ser felizes, a optar pela felicidade. E nós continuamos a dizer os nossos nãos...

Sim, é na plena liberdade que atuamos. Deus não pode fazer mais por nós que aquilo que fez e faz. Não quer, de forma alguma, perder-nos. Deus nada perde de si pelas nossas recusas em O amarmos, o não querer que nos percamos é puro ato de bondade Dele. Vida ou Morte dependem de nós, nunca de Deus. 

domingo, 26 de agosto de 2018

Caminhos de Vida

Não nos apercebemos da verdadeira realidade da situação em que vivemos. Um pouco te atenção ao que do mundo vamos vendo, e para aqueles que dão uma vista de olhos a algumas das redes sociais de que está coberta a nossa internet, percebemos que nesta sociedade e neste tempo se manifesta uma terrível e impressionante Cristofobia (medo de Cristo).

Mais do que nunca a Igreja está a ser perseguida a ferro e fogo. Mais do que nunca os valores de vida estão a ser arrasados. Não estranhemos que a situação seja esta. Acredito que estamos a caminhar para o auge da perseguição, que vem sendo preparada há bem mais de um século. Infiltrações de mal,  para que a destruição viesse de dentro, aconteceram deliberadamente. Mas a perseguição não é contra a Igreja, essa não faz mossa, é contra Deus. Vai piorar? Vai. Podemos fazer alguma coisa? Sim. Muito? Sim. o Quê? Rezar e viver com coerência nossa relação com Deus. Está tudo perdido? Não, muito longe disso! Está tudo ganho para aqueles que são fiéis e assim se mantiverem ao longo da vida e até ao seu momento final. Estávamos avisados por Jesus de que isto aconteceria.

Estamos habituados a pensar que acontece lá longe, em países muçulmanos ou similares, mas não! Acontece nos países mais tradicionalmente cristãos, acontece neste país que é nosso, e de forma bem aguerrida, mas muito dissimulada. 

A ação é esta, a reação não pode ser nos mesmos moldes. Foi-nos mandado que amemos os nossos inimigos. E o amor passa pela oração de reparação do mal feito a Deus e pela conversão, nunca por palavras, gestos ou atitudes que incitem à violência, porque ela se enraíza dentro de nós e faz-nos semelhantes a eles. Essa é a vontade da criatura que está por trás de tudo isto.
Há muito "trabalho" a fazer no silêncio íntimo dos nossos quartos e no silêncio terno dos nossos sacrários. Se há 100 anos, em Fátima, Deus se manifestava como "horrivelmente ultrajado" e "já muito ofendido", que dirá hoje? E Deus continua a suportar-nos. Reparação e desagravo, conversão e penitência, oração e sacrifício... são caminhos para a salvação, nossa e dos demais. 

"Vigiai e orai, para não caírdes em tentação" (Lc 26,41)

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Somos Migrantes


O mês de agosto é, tradicionalmente, mês de férias, abundando, por isso mesmo, o número e emigrantes que regressam às origens, àquelas terras e "momentos" onde nasceram e que viveram. As nossas origens marcam-nos indelevelmente. É por isso também que nos fascinam as músicas e demais coisas do "nosso tempo", essas sim estão-nos no coração e -las, delas falando, com muito gosto.

Faz-me isto pensar na realidade em que acreditamos e no quanto ela nos leva a ansiar por, mesmo não o pensando, vivermos um contacto permanente e definitivo com as nossas origens. Viemos de Deus, por Ele pensados desde sempre, e a imagem e semelhança que Dele somos são-nos intrínsecas. Não 'descansaremos' enquanto não retornamos a Ele e, por Graça e Misericórdia, deixarmos de ser imperfeita imagem e semelhança para sermos, Nele, perfeição.

A saudade do que interiormente somos mas não podemos viver em determinado momento é apenas uma mera sombra da ânsia interior em nos encontrarmos na casa do Pai. Esse é o anseio profundo que nos marca a vida e trespassa todo o ser.

Nascemos de Deus e para Ele fomos criados. O "não" da desobediência original, que nos assinalou a todos com marca de pecado, faz-nos viver desterrados, fora de nossa  'casa' e perdidos por caminhos errantes e em escuridão de dúvidas e de medos. No meio das incertezas do caminho, o Inimigo vai-nos fazendo aparecer luzes que não são mais que ilusões e miragens. O Segui-las só deixa mais incerteza, dúvida e ânsia, uma vez que nos afastam do caminho para a casa do Pai, esse caminho que interiormente nos é apresentado pela Espírito Santo.

Quando de eterno descanso falamos, não se fala de um 'parar' definitivamente, mas do ser tudo em Deus, porque só Ele é nossa paz, só Nele se preenche nosso ser porque só para Ele fomos criados. O inferno é exatamente o oposto: a ânsia, o pavor, o medo e a absoluta certeza de eterna infelicidade, que advêm da recusa em caminhar para Deus. Ao descanso eterno contrapõe-se a angústia eterna por nada se ter de Deus, por se estar em absoluta ausência de qualquer referência à 'casa do Pai'.

sábado, 30 de junho de 2018

O Passado no Presente

Para ninguém é duvidoso o facto de estarmos a viver a vida a uma velocidade vertiginosa. Parece-nos que o tempo passa rápido porque as coisas mudam permanentemente e nós, embarcados nelas, não temos tempo e ocasião para apreciar o tempo e a vida.

Estas gerações mais novas, porque nasceram já em tempos de alta velocidade, não se dão conta nem apreciam, como nós, as coisas do passado, que hoje, mais que nunca têm um gosto especial, com sabor a saudade.

Não pensamos, talvez, mas não é por acaso que dedicamos tanta atenção ao que nos ajuda a fazer memória do que vivemos e fomos. Recriamos uma feira antiga, não por necessidade, se bem que poderia ser muito útil a sua existência, mas pela beleza, o pitoresco, e o encontro de pessoas que as feiras proporcionava m nesse tempo. Temos carros sempre disponíveis e à mão de semear, mas não faltam os encontros de bicicletas ou motorizadas antigas, a que vamos dando nomes diferentes, para não parecer que é igual em todos os lugares, mas é, não deixando, no entanto, de ser muito interessante a relação que se estabelece entre os participantes, neste tempo em que não temos tempo, ou até temos mas fechamo-nos em casa a engordar redes de amizade virtuais.

Agarramo-nos a um certo passado, sentando sobre ele as memórias e a consolação que elas nos trazem, aquele passado que nos convém. Por isso nos tornamos grandes defensores da preservação daquilo que nos permite o reencontro com o que fomos no "nosso tempo", mas abdicamos e deixamos de lado, a morrer ou já morto, tanto daquilo que realmente fomos e que marca o que somos. Temos, ao menos, bases em que assentar esse ser que somos.

Aprendemos valores e a ser gente de verdade. Porque os tempos não eram fáceis, tomámos como desprezível aquilo que nos ensinaram a ser e não o transmitimos às últimas gerações, que, por isso mesmo, agora têm dificuldade em conseguir criar condições e ser aquilo que lhes permita olharem o futuro com confiança. Vivemos "mal", queremos que os mais novos vivam bem, e estamos a empurrá-los para um estado em que nem sequer sabem o que são. 

terça-feira, 26 de junho de 2018

É Preciso Mais...


Recordo facilmente como vivi uma infância assente em ritmos muito próprios e definidos. Nas aldeias, não imagino como seria nos grandes aglomerados populacionais, os dias dividiam-se claramente em dia e noite, sendo que um tempo era para trabalhar, brincar, e o outro para dormir, descansar. O ritmo do trabalho assentava em seis por um, seis dias para trabalhar e um para rezar e descansar. Por férias contavam-se pelo tempo que as escolas nos permitiam ficar em casa, sem aulas, tornando-se ocasião para os trabalhos que os pais se encarregavam de arranjar para os filhos, recheados ainda com o que da escola nos era mandado fazer nesse tempo de férias.

Os tempos e as mentalidades mudaram à velocidade do voo. Para muitos, as noites transformaram-se em "dia" e os dias em "noite". O pijama tira-se ao final da tarde porque se aproxima o tempo de sair da cama, ou do computador, e de casa. Claro que para muitos isto soa a exagero, e é-o, mas é a imagem do estilo de vida que esta sociedade vai assumindo.

Como se esbatem os tempos de trabalho e de descanso, se dia e de noite, esbatem-se também os "tempos" do mundo e os de Deus, como se esbate a diferença entre o bem e o mal. Estão aí os tempos de férias, tempos de uma maior dispersão das famílias, que procuram, na medida do possível, novas paragens para passar alguns dias.

Distantes ou por cá, muitos perdem o já pouco interesse que vão sentindo por Deus e pelas suas "coisas", como se de férias se tratasse também. Direi o que pode não ser entendido e, naturalmente, a muitos não interessa: o tempo de férias deve ser, porque é preciso ser, tempo de intensificação de oração e relação com Deus, na oração. A maior disponibilidade de tempo, os grupos dos amigos, as festas e festivais, o excesso nos consumos de álcool e drogas, o entusiasmo desmedido na condução, a falta de descanso, a falta de oração... aumentam, em muito, o risco de nos perdermos, particularmente os mais jovens, os nossos filhos, os filhos dos nossos amigos. É preciso mais oração por nós mesmos e pelos demais. Quanto mais precisamos menos tempo lhe dispensamos.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Coração de Mãe

O mês de junho é mês dedicado ao Coração de Jesus. Celebrámos na sexta, dia 8, o Sagrado Coração de Jesus, e no dia seguinte, sábado, o Imaculado Coração de Maria. O amor de dois corações que se celebra em união de dias. 

Quando falamos do Coração de Jesus, falamos do pleno sentimento de Misericórdia do nosso Deus, que se dá todo, até ao trespassar do seu coração, por nós. Falar do Coração de Maria é falar desse mesmo sentimento de misericórdia que Deus nos dá através de Maria, no seu coração Imaculado.

Coração Imaculado onde reside e se manifesta a plenitude do amor divino porque, em momento algum aconteceu a sua ausência, por não haver qualquer mancha de pecado. 

O coração de mãe é coração sofredor, não por si mesma mas pelo sofrimento passado, presente e futuro, que advirá como sequência das atitudes e decisões de seus filhos. Maria vive, connosco, intensamente, a nossa vida. O seu coração enche-se de alegria pelas vitórias que acontecem em cada um, sendo que vitórias são sempre as experiências de verdadeira felicidade e vida que se dão em nós. 

O seu coração enche-se de tristeza e mágoa quando, dentro da nossa liberdade, se dão, por opção e vontade pessoal, desvios do caminho e das propostas de felicidade e vida a que Deus nos chama.

Uma espada trespassou o coração de Jesus e uma espada trespassou a alma de Maria. Por alma entendamos a vida. Corações trespassados: o da Mãe e o do Filho. Corações  em intensa e profunda comunhão, sentindo um o que sente o outro, regozijando-se um com o que se regozija o outro, sofrendo um com o que sofre o outro, porque ambos são são corações transbordantes de misericórdia, corações que se desfazem de amor pela humanidade. Corações e vidas trespassados para que nossas vidas e nossos corações tenham espaço e lugar em Deus.

Num silêncio divino e profundo, somos atraídos ao coração da Mãe, que se faz caminho e ponte para o coração de Deus, onde, por fim, acontece Eternidade, onde acontecem a felicidade e o descanso eterno e pleno de Vida. (10-0-18)

Dor de um Coração de Amor

Sabemos, porque o ouvimos dizer e o dizemos que o coração é tido como a sede, fonte, onde nascem os sentimentos, como será nele também que os sentimentos podem morrer. Deixando para lá a certeza da ciência que nos diz que o coração é simplesmente um músculo, continuemos a vê-lo somo centro do amor e da falta dele, de força e ânimo e da falta deles. Por isso dizemos, e ouvimos dizer, que há gente com coração mole, gente com coração de pedra, gente com um coração de manteiga, gente com coração de fogo, gente com coração de ouro e até gente sem coração.

O que somos e mostramos na vida que vivemos, o bem e o mal que brotam de dentro de nós, o amor e o ódio que possamos sentir, atribuimo-los ao coração, que, sem descanso, bate dentro de nós. 

Dizem-nos, às vezes, que o coração não dói. Não vamos entrar por aí, deixar para lá o que nos diz a ciência, para sentirmos o que nos diz o coração. 

Deixemos que seja o coração ou não que dói e sente, para nos centrarmos na dor que nasce no peito de quem ama, aquela dor de mãe que sabe e sente a dor de um filho, que lhe faz bater acelerado o coração.

Fixemos o olhar naquele pai e naquela mãe que, se pudessem, dariam o coração por um filho doente. Quantos, durante o tempo de uma operação cirúrgica, embora o coração lhes bata acelerado do peito, esperam e aguardam com o "coração nas mãos".

Sabemos daqueles que, de dor, não suportam continuar a bater e morrem dolorosos pela dor de alguém.

Pode não ser o coração o culpado, mas é a ele que se lhes dão as consequências da culpa. Por isso, até nos "dói o coração" quando vemos o mal que era suposto nem acontecer.

Sendo pequeninos e tão limitados, sabemos o que é sofrer de coração com o sofrimento dos que amamos. E Deus? Se com infinito amor ama, que por isso deixou que Lhe trespassassem o coração, com infinito amor sofre, de coração, com o sofrimento dos filhos, que somos e sobre quem, infinitamente, derrama graças que, muitas vezes não acolhemos e, com isso, Nele provocamos dor. 

Em semana do Sagrado Coração de Jesus, aprendamos Dele o que é o Amor.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Admirável Mistério

É em Solenidade que a Igreja celebra o Corpo e Sangue de Cristo ("Corpo de Deus"). A sua presença é real nos sacrários das nossas igrejas, facto que nos permite habitual encontro cm Ele, mas neste dia, a próxima quinta feira, é com toda a solenidade que celebramos a sua presença no meio de nós. É com solenidade que O levamos em procissão percorrendo as ruas de algumas das nossas cidades, entre elas a de Leiria. 

Sendo grande manifestação de fé na presença real de Jesus na Eucaristia, pode ela tornar-se apenas um momento de religiosidade que encanta pela presença numerosa de fiéis. A nossa participação mede-se pela intensidade do nosso amor para com Deus, particular-mente pela sua presença na Eucaristia. o amor é a medida e a força que leva à participação e ao encontro com o Senhor. Claro está que a não participação não é, necessariamente, falta de amor, sobretudo quando há um qualquer impedimento que não nos permita estar presentes e celebrar.

Buscamos Deus, a Ele recorrendo, implorantes, querendo que faça parte de nossas vidas. Ele quer isso mesmo, mas ao seu querer te que haver o querer de cada um. Buscamos sofregamente o encontro com Ele, mas fugimos e evitamos os momentos, espaços e tempos, em que melhor se pode encontrar.
É imensamente grande o mistério da presença real de Jesus no Pão Eucarístico. Ele está tão vivo, real e verdadeiro, como está no Céu. Está sob a aparência do pão porque só a matéria pode por nós ser vista e sentida. Torna-se dificuldade para nós, mormente quando é fraca a fé, "senti-l'O" presente, mas o encontro pessoal, o diálogo íntimo e frequente, diante do sacrário levam a esse "sentir" e a uma inexplicável presença que transforma a vida.

Só este encontro pessoal pode levar e motivar a uma maior tomada de consciência da presença de Deus no mundo e em nós e da vida que acontece Nele. Só Nele descansa a nossa alma. Só nele têm sentido as vitórias e derrotas, os ânimos e desânimos, quem compõem nossas vidas.

Deixemo-nos entrar neste mistério do Amor de Deus, que quis ficar visível e  realmente presente no meio de nós. Embora a humanidade possa fazer da vida um inferno, somos felizes porque por Ele existimos e Nele vivemos.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Filha, Esposa e Mãe

Em dia de celebração da Santíssima Trindade (27-05-2018), aproximamo-nos do fim do mês de maio, o mês da Mãe. 

Tão absorvidos que andamos com as coisas, de muita ou de nenhuma impor-tância, não temos tempo, sobretudo não temos disponibilidade interior, para tomarmos a consciência que nos é possível, da realidade que é Deus, e da absoluta necessidade na nossa relação com Ele.

Não podemos alcançar a intensidade  da relação de Nossa Senhora com a Santíssima Trindade. É-nos possível, ao menos, refletir um pouco na questão:

Filha de Deus, porque sendo criatura só pode ter sido criada por Deus. Criada em estado de perfeição, Deus deu-Lhe tudo o que podia dar. Essa é a mais perfeita intimidade;
Esposa de Deus, porque sob a ação do Espírito Nela foi gerado Jesus. Nela se gerou plena vida divina. Essa é a mais perfeita intimidade;

Mãe de Deus, porque a humanização de Deus só era possível com a intervenção de um ser humano. E Deus chamou-A de Mãe, porque o era de facto. Essa é a mais perfeita intimidade.

Ser filha, ser esposa e ser mãe, são os mais profundos elos de relação e de intimidade do ser humano, sendo que cada uma destas dimensões é diferente, percebamos que o acontecerem em ato único e sendo intimidade relacional de Deus com um ser humano vai infinitamente para além da nossa compreensão, mas é Maravilha das Maravilhas.

É desta divina maravilha que recebe-mos a Vida e para a Vida plena somos  chamados e atraídos. Deixemo-nos envolver por Ela.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Guerra a Si Mesmo

É, talvez, a realidade mais difícil de alcançar. É, também, das coisas mais dependentes de nós mesmos para que a ela se chegue. Falar de paz reporta-nos, geralmente, para um mundo distante do nosso, pois, aparentemente, é na paz que vivemos. Parece pensarmos que a paz é apenas a ausência de grandes conflitos.

Atiramos, nisto e em muitos outros campos, as culpas e os motivos para cima de alguém que não sejamos nós mesmos, simplesmente porque não nos envolvemos em diálogo com a consciência interior. Aliás, se se manifesta um pouco mais, cuidamos de a silenciar.

É intensa a falta de paz quando no silêncio de nós mesmos há falta de tranquilidade pelo que fazemos e não devemos, pelo que maquinamos e decidimos sabendo que não nos faz bem, pelo que julgamos ser bom e fazer bem quando, interiormente, nos é dito que se trata de algo mau. Abafa-se a paz da voz interior para dar espaço a um disfarçado sistema de guerra pessoal.

Não pode ter paz quem não busca intensa intimidade com a voz interior que há dentro de si, o Espírito que, por sermos semelhança de Deus, nos atrai, inclina  e move para a Verdade. Não pode ter, nem fazer, paz quem é conflito interior.

Drama maior é ainda o facto de a falta de paz pessoal crescer como bola de neve. Torna-se sempre maior, e cresce mais, porque a um conflito não resolvido leva sempre, necessariamente, a mais conflitos geradores de falta de paz, porque o mal e o bem crescem dentro de nós, na sua essência não nos vêm de fora, nascem e crescem em nós, embora possam ser lançados do exterior, mas só se instalam se em nós há clima e ambiente preparado para tal.

Terei e serei paz se, e quando, eu quiser, apenas quando o meu ser em cada momento formar um ato de harmonia com a consciência que seu sou também. Se estou em paz interior, é porque estou em paz exterior também. O que acontecer à minha volta faz-me sofrer, inquieta-me e exige a minha ação, mas não me tira a paz. Ela está dentro de mim.

Trágico é quando me deixo iludir por falsa sensação de paz. Em Semana da Vida" devo perceber que tudo, tudo mesmo, o que vai contra a vida, não nos deixa paz. O conflito, mesmo o interior, é um estado de morte, de "não vida".                 

quinta-feira, 17 de maio de 2018

compreender o incompreensível

Fascinava-me, era eu pequenito, ver como depois de semeadas as sementes, as plantas furavam a terra e, devagarinho, iam crescendo, verdinhas e viçosas. Passava o tempo e a transformação continuava até se tornarem maduras as novas semente que na planta eram geradas. E o ciclo recomeçava, algumas daquelas sementes haviam e ser semeadas e dar mais fruto, sempre mais, como em ciclo eterno. Ninguém duvida desta realidade pois todos a percebemos a acontecer, embora não percebamos exatamente o como acontece.

Um Deus que se humaniza e se faz homem é caso para nos fazer pensar muito e só a fé nos pode levar à aceitação, porque não atingimos a compreensão. Sim, aceitamos sem sequer pensar, e porque não pensamos também não questionamos muito, acabando por dizer acreditar mas viver como quem não acredita, porque não assumimos realmente que acreditamos.

Um homem que depois de ser morto retorna à vida e se faz presente junto dos amigos em corpo espiritual, mas que se torna sensível ao ponto de poder ser tocado. Um homem que se eleve e que, entre o céu e a terra, desaparece dos olhares humanos não é magia, é realidade. Realidade aceitável pela fé, porque a razão não alcança, não pode alcançar, por se tratar de realidade para além do humanamente compreensível. 

A fé, só a fé pode levar-nos a deixarmo-nos envolver por esta realidade a que somos chamados. A ela chamados porque, embora sendo humanos, existimos para o divino e eterno. Se Deus se fez Homem foi para elevar o Homem da realidade humana à divina. A Fé é dom, mas depende de nós a sua aceitação.

Não compreendemos, claro que não compreendemos por nós mesmos, apenas por graça divina. Se não compreendemos o evoluir da natureza, das coisas e da vida onde estamos tão inseridos, como haveremos de querer compreender e abarcar a dimensão e a realidade divinas, se estão infinitamente "distantes" de nós. Infinitamente distantes mas em profunda intimidade porque na Ascensão Jesus levou até ao Céu a nossa humanidade. Deus viveu a nossa humanidade para que nós vivamos a sua divindade.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Simplesmente Mãe

Era já mãe de uma menina. Pequenina, rosto de boneca, gestos meigos e olhar terno. Era a vida e a razão de viver da mãe. Uma doença levá-la-ia à morte se lhe não fosse doado um órgão vital. Só um irmão a salvaria. Os pais decidiram e a mãe gerou. Desta vez era um menino. Aos 18 meses tiraram-lhe um pouco de si, para salvar a irmã. Mas ele não resistiu e deu-se todo, até o sorriso que lhe ficou seguro nos lábios quando morreu.

A menina, essa, cresceu confiante e bela. Foi, sempre foi, o encanto da mãe. Mas a mãe tinha perdido um bom pedaço da sua vida, quando, nos braços, lhe morreu o menino para dar vida à irmã, ainda menina a esse tempo.

A mãe viveu a sua vida a meio tempo porque o outro meio tinha parado no seu menino. A menina cresceu cheia de vida. Quase cheia, porque, no intuito de viver tudo, uma parte dela era ingratidão. Vivia uma vida que lhe fora dada, sem entender que não viveria de outro modo, sendo que assim, se diria que a vida não era sua mas de um irmão, pequenino, que morreu para ela viver.

E a mãe, cada dia, vivia muito por ver a filha crescer e sentir-se feliz, mas cada dia aquela mãe deixava de viver um pouco por perceber que parte do ser daquela sua filha era aparência, não correspondia totalmente à verdade do seu ser. No fundo, não era verdadeira vida. Mas, sabia também que um filho seu era agora, ela tinha  bem certa a certeza, um anjo a velar no Céu, o Céu da vida, onde nada há que não seja felicidade.

E a mãe reza e pensa e lança pequenos sinais de alerta à filha, para que, sem lhe coarctar a liberdade, ela se dê conta e seja grata e veja que a vida não é para ser simplesmente gozada, mas vivida com intensa precaução porque tem o preço da vida de um filho, um filho seu, e dela um irmão.

E a chora lágrimas invisíveis por a ver morrer muito devagarinho numa vida de aparente gozo de felicidade, numa ilusão que só vive quem não sabe ser mãe e ser pai e ser irmão que dá vida.
E a Mãe chora e sofre quanto é possível chorar e sofrer, por ver que uma filha sua se pode perder da Vida, num mundo de morte, já quase pedido. Teme que entre num ponto sem ter volta a dar.

Ser Mãe é ser vida. Não sabe ser mãe quem não sabe a vida ser e dar.    (06-05-18)

terça-feira, 1 de maio de 2018

Especial Para Deus

Quanto medo e quantas maquinações de mal nascem quando uma criança, ainda que na sua inocência diga que quer ser padre! Se na adolescência ou na juventude alguém assim se manifesta, tornam-se mais severas tais maquinações por parte daqueles que se deixam ser instrumentos do Mal, assim como os medos dos pais que, tornando-se pequeninos não veem além do medo e perdem a o olhar da grandeza do dom e da graça que é vocação sacerdotal de um filho seu. Não perde, porque Deus nada deixaria perder a quem Lhe consagra um filho.

O sacerdote é escolhido por Deus, é eleito, não por mérito ou valor seu, mas por puro dom de Deus, para integrar a porção mais dignificante da sua vinha. Não há, repito, não há estado mais dignificante para o ser humano, como o ser humano, como este de ser escolhido pelo próprio Deus para ser dispensador dos seus dons e graças. Porque é especial para Deus, porque e Ele é consagrado, o sacerdócio é também a realidade mais odiada, mais perseguida, a mais atacada pelas forças do mal, que atuam no mundo subtil ou claramente.

Só a força da oração e a confiante certeza da permanente graça de Deus, a que se aliam os frutos do ministério, embora não sendo seus mas de Deus, dão ao sacerdote a força e o ânimo para caminhar. "Bem-aventurados sereis quando vos insultarem, e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, pois é grande nos céus a vossa recompensa" (Mt 5,11-12).

É verdadeiramente dom, graça, e felicidade que o sacerdote se sinta despojado de si mesmo e, no meio dos seus muitos pecados, se saiba amado e instrumento de Deus para Ele realize a Salvação. Saber que, quando atua in persona Christi (na pessoa de Cristo) são suas as palavras e os gestos, mas que é do próprio Deus a ação e a força que têm! Saber que a Graça passa por si, que Deus se faz realmente presente quando pronuncia as palavras da Consagração, que Deus se faz perdão, quando pronuncia as palavras da Absolvição!

Porque a graça é dom gratuito, ela é oferecida não apenas ao sacerdote, àquele que diz "sim" ao chamamento, mas à família que disse o seu "sim", na consagração de um filho, como também à comunidade que o ajuda a crescer. Naturalmente a graça atua tanto quanto a abertura que se tem a ela. Se conhecêssemos o Dom de Deus!!!                                                                                          (22-4-18)

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Açao de Deus


Somos batizados e queremos o batismo para os nossos. Talvez não percebamos muito bem porquê nem para quê, mas que queremos, queremos. Mais, ainda, queremos que no funeral seja celebrada missa, ainda que ao longo da vida ela tenha sido arredada dos afazeres do defunto.

O Papa Francisco dizia, há dias, que era preciso batizar as crianças para que o Espírito Santo entre em suas vidas e atue nelas. Esta expressão tem bem mais que se lhe diga do que aquilo que no primeiro momento possamos pensar: o Espírito Santo atua independentemente da nossa ação. Quanto aos frutos dessa ação, esses sim, dependem da nossa aceitação e atuação.

A vocação, o chamamento, à vida sacerdotal, e estamos em Semana de Vocações, é um estado, não uma profissão. Como o ser cristão, é uma forma de viver e de ser. Deus quer que a sua ação no mundo e na história aconteça através de pessoas, não de Anjos. Por isso escolheu homens e mulheres por quem atua e realiza a Salvação.

O sacerdócio ministerial é apenas exercido por homens. Esse é o ponto que menos interessa nesta reflexão. Importa pensar que Deus atua através do sacerdote. Queiramos ou não, atua. Seja o sacerdote muito ou pouco pecador (ninguém é pouco), Deus atua por ele. A Graça e os frutos dessa ação de Deus dependem do sacerdote, sem dúvida que sim, mas os seus efeitos dependem essencialmente daqueles sobre, em função de quem, atua.

Entenda-se, assim, que a oração, o ânimo que procura dar-se, pelo sacerdote frutifica nele mas atua, de imediato, sobre quem reza e anima, e sobre a comunidade. O sacerdote não atua em função de si mesmo, é instrumento de Deus para que Ele atue sobre a humanidade e, particularmente, sobre as comunidades que ao sacerdote foram confiadas.

Não se julgue que quando se pede oração pelos sacerdotes é em função dele. Não, é em função da Igreja, para glória de Deus e bem das almas. Assim também, quando, por mal, se diz e faz alguma coisa aos sacerdotes, está a cortar-se a ação de Deus sobre a comunidade que por eles são servidas. Não estou a defender os sacerdotes, estou a tentar fazer perceber o que perdem e ganham as nossas almas.