Naturalmente, nenhum de nós busca outra coisa senão o "ser
feliz", sigamos nós o caminho que seguirmos. Naturalmente, também,
afeiçoamo-nos àquilo e àqueles com quem nos identificamos, e que nos dão aquela
sensação de feliz segurança que buscamos. Ainda que seja nas situações de
solidão, medo, revolta interior... é ali que permanecemos porque esse é o meio
que "conhecemos" e onde nos sentimos bem, embora nos faça um mal
terrível. Isso leva-nos a adaptarmo-nos às situações ou adaptar as situações a
nós, impedindo, muitas vezes, que haja a necessária transformação pessoal que
traria a felicidade real.
Cristo propõe-nos um caminho, aliás, O caminho: que amemos Deus acima de
todas as coisas e que nos amemos uns aos outros. Ora, o amor, pode dizer-se, é
a adaptação pessoal ao projeto de felicidade que se abraça, não a adaptação do
outro àquilo que eu sou, penso e sonho, isso é refinado egoísmo. Assim, o meu
amar Deus só pode levar-me à minha adaptação a Ele, ao que pensa, aos projetos
que Ele me oferece como caminho de felicidade. Nunca será a adaptação de Deus a
mim, ao que, egoisticamente, penso e quero. Isso apenas criará o
"encasulamento" de mim em mim mesmo, levando, possivelmente, à
implosão da minha felicidade, de mim. Fechando-me em mim, estarei fechado aos
outros, não os amando por não me adaptar a eles, nem permitindo que me amem,
por haver uma barreira que os impede de me amarem, de se adaptarem a mim.
Pensando bem, é assim que Deus nos ama, adaptando-se a nós. Por isso mesmo
se fez homem (que maior adaptação poderia haver?). Fê-lo para tornar possível a
nossa adaptação a Ele. Não, não é egoísmo seu, é puro amor porque abriu o
caminho que o pecado nos tinha fechado. Agora, chama-nos a fazer o Caminho com
Ele. A felicidade, chamemos-lhe salvação, não acontecerá enquanto eu quiser
adaptar Cristo a mim, aceitando tudo e só o que me convém. Ele será realidade
apenas, e só, quando eu me adaptar a Ele e percorrer o caminho que a Ele
conduz. O Evangelho mostra-me qual ele é.